segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O caso do elefante

Um certo dia, quando Chico ainda era criança, apareceu um elefante no quintal da casa dos Buarque de Hollanda. Um elefante para valer, um vasto e bem-montado elefante. A estirpe, que já tinha lá imaginação das boas, foi à loucura com curiosa aparição. Sobre o fato, José Candido de Carvalho escreveu a divertida crônica abaixo:


Uma noite [...] Chico ouviu
ruídos no fundo da chácara.
Deixando Cabral cair
no chão e Pero Vaz
de Caminha de tinteiro
entornado, imaginou:
  - São os índios!
  Não era índio.
Era apenas um vasto e
bem-montado elefante.
A chácara da rua
Haddock Lobo tinha
naquela noite o grande
prazer de apresentar
ao respeitável público
da casa do dr. Sérgio
Buarque de Holanda
o seu número maior.
Um elefante ao natural.
  Quando Dona Maria
Amélia soube que tinha
um elefante no seu quintal,
sem acreditar no que
ouvia, mandou que Chico
fosse estudar:
  - Que invenção é
essa, que bobagem é essa?
Vá para o quarto tratar de
sua geografia.
  Quando o dr. Sérgio
Buarque de Holanda,
homem ilustre, escritor
importante, soube do
elefante em seu território,
meio sobre o vago, mais
dos seus livros do que da
verdade das crianças, disse
mais ou menos assim:
  - Joga na lata de lixo.
Elefante é elefante.
Não é como borboleta, que
se espeta, ou pardal que se
empalha. Elefante é fogo!
Chico, à frente do exército
de manos, foi espiar de perto
a grandeza do bicho. Era
uma ilha, uma imensidão
de carne e osso. Medido
em palmos, Chico levaria
horas para viajar da cauda
a cabeça. Que jogar no lixo,
que nada! O melhor era
esconder o elefante, ficar
dono dele. Durou pouco a
propriedade dos meninos
Buarque de Hollanda sobre
o aparecido. Um cornaca
logo veio saber notícias
dele. O elefante tinha fugido
do circo, precisamente do
circo armado no terreno
baldio que funcionava como
chácara suplementar da
meninada da rua Haddock Lobo. 
E foi assim, num dia assim,
com o sol assim, que
o quintal de Chico perdeu
a sua maior atração. O que
restou, depois da visita tão
monumental, foi quase
nada: bem-te-vis, sapos
e humildes cambaxirras.
Chico sentiu nesse dia que
a chácara tinha perdido
alguma coisa.
   - Encolheu!

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