Enquanto na política tudo ia de mal a pior, na música o momento era bom. Os Beatles lançaram seu segundo filme, Help!, e foram nomeados Membros do Império Britânico pela rainha. Os Stones tocarm na Austrália. E em Londres, quatro estudantes formaram uma banda chamada Pink Floyd.
E por aqui também era tempo de mudança. A bossa nova do barquinho e do violão começava a abrir espaço: o I Festival de Música Popular Brasileira foi o marco e a música vencedora, Arrastão (composta por Edu Lobo e Vinícius de Moraes e interpretada por Elis Regina, a responsável pela transição de estilos). A bossa nova se desenvolveu e o que aconteceria a partir dali ficaria conhecido como MPB (Música Popular Brasileira).
Foi em meio a tudo isso que, no dia quinze de julho, Bob Dylan entrou no Studio A, da Columbia Records, para gravar Like a Rolling Stone. A canção marcaria época, primeiro pelo seu formato de seis minutos enquanto a maioria possuía três; segundo pela sua letra afiada, satirizando publicamente da alta sociedade e dos seus valores, que em tempos de guerra e conflitos políticos se mostravam ineficientes. A música fala da queda social, de uma mulher que antes frequentava as melhores rodas e ria de todos e que hoje tem de vasculhar pela próxima refeição. A ironia de Dylan é clara em toda a letra, mas atinge o ápice no último verso, quando ele declara: "when you got nothing, you got nothing to lose" (quando você não tem nada, você não tem nada a perder) e continua: "you´re invisible now, you got no secrets to conceal" (você é invisível agora que não tem mais nenhum segredo para ocultar), como se estivesse ao mesmo tempo consolando a personagem central e jogando em sua cara que agora ela, além de não possuir mais nada, não é ninguém. Impiedoso e vingativo, o compositor expõe a queda e ainda pergunta: "how does it feel?" (como se sente?). Ele não tem medo da resposta, na verdade ele espera uma resposta bastante dolorida, sobre a qual não revela nem um triz de compaixão.
Essa mulher não existia apenas em 1965, ela existia antes disso, existiu depois e sempre continuará existindo. Provavelmente você a conhece e eu também, pessoas com uma história assim estão por todas as partes. Esse, aliás, é o maior trunfo de Dylan. Não importa o tempo que passar, sua temática permanecerá atual. Esse e outros aspectos fazem de Like a Rolling Stone um clássico. A ira das palavras proferidas e a confusão de imagens que elas nos causam mudaram para sempre o cenário musical, e abriram espaço para movimentos como o grunge, o punk, e outros. Em 2004 a revista Rolling Stone nomeou-a como a melhor canção de todos os tempos, agora fica até fácil saber o porquê.
Dylan em versão ao vivo, 1966.
E aqui para a BBC.
Hendrix tocando.
Os Stones tocando.